HOLLYWOOD, CA - FEBRUARY 28: Actor Leonardo DiCaprio accepts the Best Actor award for 'The Revenant' onstage during the 88th Annual Academy Awards at the Dolby Theatre on February 28, 2016 in Hollywood, California. (Photo by Kevin Winter/Getty Images)

Não é exatamente uma pergunta nova e ela geralmente se estende até mesmo para a ideia que precede a vitória: para que serve ser indicado ao Oscar? Se a festa anual da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood tornou-se longamente criticada há vários anos, qual a real relevância de ser consagrado com a estatueta dourada?

Diferentes pontos do show deste domingo, 28, indicam que o Oscar está em um momento não somente de críticas externas, mas de forte autocrítica. Depois das longas semanas de polêmicas em torno da ausência de diversidade nas indicações deste ano, a cerimônia começou com um Chris Rock tocando diretamente no assunto. Com o seu humor que soa como uma acidez-sorridente, o comediante foi direto ao ponto: tem brancos demais entre os indicados e grandes nomes que poderiam ser mais recorrentes não estão sempre ali.

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“Depois das polêmicas em torno da ausência de diversidade nas indicações deste ano, a cerimônia começou com um Chris Rock tocando diretamente no assunto”

 

Sem acertar todas as tiradas, Rock não deixou de lado, entretanto, a crítica às críticas. Suas falas também passaram pelo exagero da ideia de boicotar a cerimônia (cutucando Will Smith por duas vezes) ou achar que essa é a maior causa que negros americanos devem investir tempo pensando. Chris Rock disse algo como “é possível que não tenhamos tantos indicados porque eles morreram baleados por policiais antes de chegarem ao set de filmagem” – o ator faz referência direta às mortes de negros por policiais em todo território americano.

A plateia e os telespectadores poderiam esperar que o discurso crítico ficasse apenas no começo, mas ele passou por todos os momentos em que Chris apareceu no palco. Kevin Hart até tentou colocar panos quentes e ser mais “positivo”, mas a verdade é muito evidente: Rock foi às ruas perguntar a negros se eles assistiram às obras indicadas à categoria de Melhor Filme. Nenhum dos entrevistados viu O Quarto de JackBrooklin ou Ponte de Espiões (todos com protagonistas e elenco majoritariamente branco). Mas todos responderam que viram e amaram Straigth Outta Compton, que conta a história do grupo de rap N.W.A e foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original. Questão de gueto ou representatividade nas telas?

O valor de uma indicação ou da própria estatueta não passou apenas pela representação de raça e gênero. Se no Globo de Ouro foi a vez de Rick Gervais mandar todo mundo parar de fingir que o prêmio vale alguma coisa, no Oscar foi o momento de Louis C. K.. A diferença é que este ficou em uma saia justa e tanto.

Apresentando a categoria de documentário curta-metragem, o comediante explicava que é para produtores de algo assim que o Oscar faz alguma diferença – e não para as celebridades riconas que são indicadas todos os anos. Parafraseando Louis, os vencedores de uma categoria como essa voltam para o seus “apartamentos de merda” felizes de verdade porque eles nunca tiveram uma oportunidade como aquela.

Louis C. K.
Ator e comediante Louis C. K. fez piadas ácidas e depois saiu com saia justa.

O que Louis não esperava (e o ato serviu pelo menos para mostrar o sigilo dos vencedores) é que a vencedora da noite já tinha uma estatueta em casa. O filme A Girl in the River: The Price of Forgiveness, de Sharmeen Obaid-Chinoy, fala sobre os crimes de honra no Paquistão e, segunda a diretora em seus agradecimentos, uma lei foi mudada por causa do documentário.

DiCaprio moderado

Aplaudido de pé diante da sua aguardadíssima vitória, Leonardo DiCaprio fez seus agradecimentos com bastante polidez, sem floreios, apenas aproveitando para falar de questões climáticas (o que parece ser sempre a carta na manga para ser politizado no Oscar sem atingir ninguém seriamente). Mas a pergunta que estava enterrada durante toda a torcida-de-final-da-copa por ele: que diferença faz um Oscar na estante de Leonardo DiCaprio? Ele vai se tornar agora um ator melhor por conta disso?

Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock  nunca ganharam um Oscar (mesmo com várias indicações para seus filmes) e nem por isso se tornaram diretores irrelevantes. Scorcese chegou a “perder” para Kevin Costner (Dança com Lobos) com Os Bons Companheiros na disputa (e que currículo!), mas nem por isso virou meme.

No fim da festa, se a América já foi muito bem representada em Pulp Fiction como a terra dos símbolos vazios, o Oscar parece ser só mais um deles: pertinente uma parcela da indústria cinematográfica já datada, com preconceitos latentes e faltando significado real para além do espetáculo e glamour.