Epifanias: feminismo, babaquice e militância

FEMINISMO

Eu já estava ajustado para começar minha série na cadeira flexora quando na minha frente uma garota se prepara para começar a usar a mesa flexora. Devido à disposição dos aparelhos, ela basicamente estava deitada de bruços na minha frente e como quase ninguém mais frequenta academia como eu – no estilo mendigo limpo – eu iria fazer toda a minha série com um generoso decote na minha linha de visão.

Prontamente virei a cabeça pra cima para não constrangê-la, afinal musculação já é um saco e ter alguém lhe secando com os olhos provavelmente não deve ajudar.

Foi então que algo me chamou atenção: depois de se ajustar por completo, ela assumiu uma posição com a cabeça e os braços que tampava qualquer visão mais atrevida e eu pensei: “caramba, como será que ela consegue isso? Volta e meia eu deixo meu “cofrinho” aparecer hahahaha”

Hahahaha – mas não tinha mais graça, por que no mesmo instante percebi: não foi uma coincidência, ela realmente sabe milimetricamente como se cobrir pra evitar esse tipo de coisa.

Mas que tolinha! Toda essa camuflagem ninja pra nada. Eu sou bom moço e não tava olhando, tava fazendo o possível pra deixá-la confortável. Só que não, porque eu ainda sou homem e aí veio a epifania.

Foi nesse momento comum que me dei conta como minha simples presença pode causar constrangimento e sensação de insegurança à uma mulher. Não importa se eu chorei em “Up – Altas aventuras” e tenho medo de filmes de terror, ainda sou homem.

Não é sobre deixar de frequentar a academia, mas é tentar entender o mundo sob a óptica de quem é constantemente podada na maneira de se portar.


BABAQUICE E GERÚNDIO

Certa vez, papeando com alguns amigos soltei a seguinte frase: “mas todo mundo tem o direito de ser babaca!”

Causou uma certeza estranheza e discordância geral, provavelmente por que não me expressei bem. Minto, eu me expressei completamente errado, claro que ninguém tem o direito de estacionar na vaga de deficientes ou discriminar alguém por qualquer motivo que seja. Melhor frase seria: “uma opinião babaca, não faz de você um babaca.”

Isso por que aplicamos essa regra quase que diariamente com quem nos é próximo, mas a esquecemos por completo com quem não é.

Provavelmente você tem algum parente à favor/contra a redução da maioridade penal, à favor/contra o casamento de pessoas do mesmo sexo, que ama/odeia a direita, que ama/odeia a esquerda, ad eternum. Todavia sua classificação para aquela pessoa não é: um babaca.

Eu tenho problemas com articulistas cristãos que, não raro, colocam o preciosismo teológico acima da compreensão com o próximo e por vezes já me peguei pensando: “que babaca!”. Ah, a ironia.

Pra muitos Jean Wyllys é o cara, já outros enxergam em Malafia um porta-voz de suas ideias. E também há quem os veja como dois lados da mesma moeda, cara e coroa.

Mas é justo chamá-los de babacas? É coerente chamar qualquer pessoa de babaca apenas por suas opiniões?

Quando eu digo que Wyllys é um babaca estou o atacando por inteiro: como vizinho de apartamento, cidadão, colega de academia, filho, irmão, amigo.

Quando falo que Malafaia é babaca, também o atinjo como um todo: pai, síndico, cidadão, peladeiro de final de semana, filho, irmão, amigo.

Talvez nossa solução esteja no gerúndio.

Ele está sendo muito babaca e eu estou tentando enxergá-lo como um todo.


MILITÂNCIA

Tudo que parece faltar na militância recente (homossexual, feminista, cristã, política, etc.) é justamente o mandamento mais propagado de Cristo: “ame o próximo como a ti mesmo”.

Falta essa empatia, o se colocar no lugar do outro e tentar entender o mundo sob outros olhos.

Me colocar na pele da menina que malha comigo ajudou bastante na minha concepção da luta feminista. Eu ainda discordo de frases como “homem não tem que discutir feminismo”, mas entendo mais o discurso por trás e começo a perceber melhor os ideais e bandeiras levantadas.

Entender que o outro não é um babaca apenas por ter opiniões que sejam otárias, é basicamente rever minhas opiniões idiotas e, sabendo que não sou um, estender esse benefício aos demais que me rodeiam.

Também não vale repudiar um texto de Duvivier por que ele é raso em teologia, tampouco chamar um cara de misógino por ele não entender o que é o Feminismo. Explique a teologia à Gregório sem ofendê-lo, mostra a luta feminista sem partir para o ataque.

Se somos o porta-voz de alguma bandeira, como esperar que alguém a compreenda se nós nunca levamos ela ao campo inimigo? Se nossa tática é apenas levantá-la de longe, apenas anunciando o ataque da cavalaria que está por vir?