Vingadores, Star Trek e a Igreja

“Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um.” João 17:21-22.


Se você acompanha cinema com um mínimo de regularidade provavelmente já assistiu Vingadores (mais provável ainda que tenha revisto outras vezes, rs) e deve se lembrar de como o filme termina. Caso sua memória não esteja assim tão boa, vou refrescá-la num ponto que quero destacar – o que é bom, pois vai lhe ajudar a se preparar para estréia de Vingadores 2 (atenção, spoilers adiante!):

No final do filme a Terra (Nova Iorque) está sendo invadida por uma raça alienígena que surge com mais velocidade do que os Vingadores conseguem detê-la. Além disso, um míssil nuclear é lançado em direção à Manhatan e parece que tudo vai sair pelos ares. No apogeu heroico do filme, o Homem-de-Ferro agarra a bomba e voa em direção ao portal por onde as criaturas estão surgindo. Ele solta a bomba, o portal fecha, ele chega em segurança e todas as criaturas que ficaram na Terra, morrem.

E por que todos eles morrem?

Primeiro por que é um excelente Deus Ex Machina, e o problema todo é resolvido. Segundo, por que dentro do universo criado para o filme, os Chitauri (nome da raça alienígena) são todos conectados à uma Nave-mãe que jamais participa da batalha, ela é o cérebro de todos eles; com a perda de conexão ocasionada pelo Homem-de-Ferro, todos sofrem uma “morte cerebral” instantânea.

 

Chitaur 2i


Agora guarde essa informação por alguns segundos e observe esta outra pílula de cultura nerd:

Entre 1987 e 1994, ia ao ar Star Trek: The Next Generation, uma série que se passava na mesma ambientação da Star Trek original (aquela com Mr. Spock, saudação em “V” e o “vida longa e próspera”.)

Dentre as várias raças extra-terrestres apresentadas na série, temos uma chamada de “Borg”. São um grupo de organismos cirbernéticos que funcionam em forma de uma consciência coletiva, sem um comando central, da mesma maneira que a própria internet não possui um servidor central.

Até 1996, quando o filme “Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato” criou a figura da “Rainha Borg”, não existia um “Borg” que comandasse os demais (inclusive, o fãs hardcore desconsideram a figura da rainha, por ir de encontro à estrutura da raça). Não havia um alvo específico para se neutralizar e, assim, desestabilizar toda a raça.


Agora juntemos tudo.

Já tenho mais de uma década de participação efetiva na Igreja, vivi várias coisas, errei muito e aprendi mais ainda.

Com a profusão já quase que alarmante de comunidades evangélicas pelo Brasil, passei a ter contato com vários tipos de igrejas, seja através de conversas de acampamento, testemunhos, atuação ministerial e da própria internet, sendo que uma coisa tem chamado atenção:

Fomos todos chamados à ser uma Igreja “Borg”, todavia cresce o número de igrejas “Chitauri”.

Cristo roga, em sua oração no getsêmani, para que todos nós sejamos um assim como Ele o é com o Pai – isto é, um ser hierarquicamente organizado, mas único por essência. Cristo obedece ao Pai, mas não é inferior à Ele e tampouco ambos são superiores ao Espírito, e nem poderia, pois os três são um só, indivisíveis.

Assim deve ser a Igreja. Estruturada, organizada, porém única em essência. Pastores, diáconos, presbíteros, faxineiros, músicos, do mais quieto ao mais extravagante membro, todos como um corpo só, indivisível. Não se esfacela caso o líder caia, não se desvia caso os mestres deturpem as escrituras, não cala o louvor caso os músicos estejam distantes.

Na verdade a Igreja de Cristo é assim, ela foi instaurada para um cristianismo “Borg em Espírito”. Cada um negando à si e fazendo parte de um coletivo maior.

Porém, muitas vezes nos prendemos à um sistema eclesiástico “Chitauri”, e regularmente essa prisão vem de nós mesmos. Cresce o número de cristãos que preferem seguir cegamente estruturas religiosas que simplesmente emanam seus comandos por meio do servidor central.

Não existe um coletivo uno que cresce mutuamente […] pois preferiu relegar o pensar para a “Liderança”

Não existe um coletivo uno que cresce mutuamente, em conjunto na Palavra, mas apenas um exército descerebrado que segue e transmite qualquer doutrina e convicção que lhes é apresentada, pois preferiu relegar o pensar para a “Liderança”. Quando esta cai, tudo cai.

Critique, pense e aja para que tudo aquilo que você produz seja compartilhado com a Igreja, assim como assimile tudo aquilo que a Igreja tem a lhe oferecer. Sempre analise se a sua igreja – sua congregação local- vive uma experiência “Chitauri” e, caso viva, veja ainda se esta é fruto do comodismo dos membros, da imposição dos “líderes”, ou ambas as coisas.

Em caso de uma resposta positiva em qualquer das hipóteses, sinto lhe dizer, mas você está vivendo em um modelo que não foi desejado nas Escrituras (pode ser que seja a hora de procurar outra comunidade, ou de ter uma conversa séria com seu Pastor). Portanto ore por sua igreja, por você e peça discernimento ao Pai sobre como proceder . Pois nós não temos Homem-de-Ferro, mas temos o Homem-da-Cruz.

E que Ele nos guie (e perdoe essa piada infame no final).