Temas mais importantes para o evangélico brasileiro se preocupar

Um grupo que se identifica em uma ideologia comum, com certa escala, consegue fazer barulho. Se houver organização política, então, consegue-se até mudanças efetivas nos rumos de uma sociedade. Seja esse o grupo formado por fãs de Justin Bieber no Twitter para criar um trending topic, seja uma massa de evangélicos que parou seu dia para dar um dislike em uma campanha publicitária da Boticário.

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Não é novidade. Esses rumos apenas repetem o eco que, em 2015, começou com o furor contra a Natura, que patrocinava uma novela de televisão que tinha um casal homossexual.

Ciente de que inúmeras campanhas evangélicas não representam a totalidade daqueles que dizem tentar seguir o Evangelho, o *catavento traz uma lista com sugestões de temáticas mais importantes para essa turma se ocupar.

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Frente Parlamentar Evangélica realiza culto dentro da Câmara Federal.

Pautas que merecem maior preocupação, inclusive emergencial. Até porque o *catavento acredita que qualquer grupo, incluindo o que se intitula “evangélico” pode e deve ter representação social e política. A Bíblia nunca se isentou politicamente e o versículo sobre dar a César o que é dele nunca foi uma admoestação de se afastar desse meio.

Nesse sentido, ainda que assuntos de gênero mereçam debate, especialmente pelo desdobramento de certas cosmovisões relacionadas em outras esferas, parece que tais grupos poderiam se ocupar mais com outros assuntos e, enfim, mostrar serviço ao país. Um serviço mais útil que tentar destruir uma campanha que apenas retrata uma realidade inevitável para qualquer um, para qualquer crença, em qualquer lugar desse mundo.

Vamos às sugestões:

Ensino superior e capacitação

Com evidente tradição educadora em todo mundo, o protestantismo já fundou universidades de grande importância, como Harvard nos Estados Unidos ou a Mackenzie por aqui. No Brasil, ainda há a tradicional PUC, fundada por sacerdotes católicos. O ensino de qualidade, quando conta com uma pedagogia sensata e laica em suas práticas, produz resultados duradouros em uma sociedade. Não é paradoxal que o ensino de uma instituição criada por cristãos seja laico: de forma simples, ética cristã também é acreditar que uma sociedade precisa de educação para formar grandes seres humanos, sem necessariamente falar da Bíblia na aula de matemática.

Justiça social

Para além da essência espiritual básica do cristianismo, se há uma marca do andar de Cristo nesta terra é a justiça social. Ele chegou no mundo chutando (às vezes, literalmente) os tradicionalismos judáicos e trouxe pra perto de si quem era afastado da sociedade da época. Prostitutas, ladrões e leprosos andavam com Jesus e seus discípulos e o discurso de inclusão era constante e radical. O recado dele foi para olhar para os pequeninos e excluídos, deixando claro que em um dia de julgamento final, quem pregou, disse que o amava e até fez milagres, mas não cuidou de quem precisa, não vai para o céu.

Está extremamente claro no discurso de Cristo que a preocupação com a justiça social é anterior à qualquer escolha do foco da ação.

Com a “própria vida”

Em um dos seus sermões mais famosos, o “Sermão do Monte”, Cristo lembrou aos hipócritas da época que era melhor ver a trave em seu olho do que ver a farpa que está incomodando o outro. Os políticos que se movimentaram em apontar o pecado da novela, da Globo e tudo mais, talvez tivessem que se preocupar primeiro com a trave que está bem grande em seus olhos – como deveria ser praxe de qualquer um que se diz cristão. Inúmeros deputados evangélicos são investigados ou mesmo acusados de crimes contra o país e isso quer dizer muita coisa.

Amar incondicionalmente

É triste, incrivelmente triste, que os que se dizem cristãos precisam ser conclamados à amar o próximo. Fábio Sampaio, vocalista da banda Tanlan, postou em seu Facebook: “Quando aqueles que deveriam ser conhecidos pelo amor são considerados propagadores de ódio é porque alguma coisa deu muito errado”. Ou seja: o dom que excede aos demais, o ponto central do discurso de Jesus quando se referia ao modo de lidar com nossos pares, é justamente pelo que a massa evangélica é menos conhecida.

Somos um grupo pervertido, infiel, corrupto, mentiroso, violento, odioso e todo e qualquer outro pecado que você possa imaginar. É o reconhecimento de que somos todos seres caídos que – em tese – nos faz olhar para o outro e entender que sou tão pecador quanto, inclusive pior.

Cristo impediu o apedrejamento da prostituta e depois a admoestou para que não tornasse a pecar.

É preciso amar antes, sem segundas intenções. Não interessa o pecado, se gay, prostituta, ladrão ou assassino (e aqui não se equipara tais indivíduos), não é pra amar esperando que o outro se arrependa.

É amar ainda que o outro não mude. Amor incondicional é isso.

 


* A foto que abre este artigo é de divulgação da Frente Parlamentar Evangélica. Ela registra a recente Santa Ceia que foi realizada dentro da plenária, reunindo deputados evangélicos.