O dia-a-dia das igrejas pode acabar criando um exército de clones cristãos.

Por uma igreja mais passiva

Venho pensado bastante no papel da igreja nesses últimos dias.
Acho que estamos ativos demais, eclesialmente falando.

Escola Bíblica; Discipulado; Grupos pequenos; Ministérios; Culto dos Jovens; Culto dos Adolescentes; Celebração dominical. Gente… sobrou tempo pra ser cristão?

Não venho aqui questionar a validade de tais institutos, não sou burro. Mas sim a forma industrial em que estamos lidando com eles.

Não somos mais Batistas, Presbiterianos, Assembleianos, Anglicanos, etc. Viramos Fordistas.
Montamos uma linha de produção de como fabricar um cristão e, achando pouco, ainda estabelecemos uma espécie de “revisão programada”; para os raros casos em que alguém conseguir sair da longa linha de produção, se mantido na garantia.
[quote_right]Montamos uma linha de produção de como fabricar um cristão e, achando pouco, ainda estabelecemos uma espécie de “revisão programada”;[/quote_right]
Criamos uma obrigação que algumas vezes vem de forma direta: frequência em um ou mais programas da igreja para se atuar em um ministério; outras vezes vem em forma de pressão indireta: inevitável exclusão social pela não participação.

Aqui cabem, desde já, dois adendos:
1) se você é um anarquista eclesiástico, desista. Isso tudo não é algo inerente à igreja, não é desculpa pra justificar uma revolta qualquer. Isso é adolescência na fé, supere.
2) a “exclusão social” mencionada não é algo intencional e sistemático. É uma consequência natural de quando não se frequenta o mesmo ambiente, simples assim. Acontece em faculdade, família, todo canto. Inclusive nas igrejas se vê o oposto, pessoas lutando para não deixar isso ocorrer, mas é uma luta injusta e ingrata para os que assumem tal responsabilidade.

Acho que se o Éden fosse administrado de acordo com nossa visão atual de igreja não existiria fruto proibido. Ponto. Explico:

A nossa linha de produção Cristã busca ser a mais aperfeiçoada possível e, para isso, adotamos uma postura proativa em minimizar as chances de erro.

Assim, vem todos os programas citados no começo do texto, e mais alguns que estão sempre surgindo.
Vivemos assombrados com a ideia de que a geração atual é sempre “mais pecadora” que a anterior, por isso aperfeiçoar, aperfeiçoar, aperfeiçoar! Nada de soltar esse povo por aí!

{Fim da crítica até então gratuita, hora de tornar essa divagação útil em alguma coisa.}

Precisamos ser mais passivos.
Colocamos rédeas demais.
A intenção é boa, mas a ovelha que se desgarrou das 99 só o fez por que estava solta, e isso não significa que o pastor era relaxado.

Vivemos uma paranoia onde precisamos da certeza que o rebanho está andando por onde deveria andar.

Contudo, há pessoas que só baixam seus muros e ouvem acerca do cristianismo com quem constrói uma relação artesanal com elas (acho que a maioria é assim). E só se pode fazê-lo quando se tem TEMPO para isso.

Ninguém tem saco pra um cristão coxinha, que dá em toda padaria. Esse já enjoou faz tempo. Mas continuamos de vento em popa, fornalhas e mais fornalhas de coxinhas sendo despejados mundo afora.

É preciso perder o controle, deixar solto, “let it go” (como diriam os americanos – para furor de Ariano Suassuna). Alguns se perderão sem volta, outros voltarão, é a vida.

Chega de encher Adão e Eva de serviço para que eles não tenham tempo de passar perto do fruto proibido.

[quote_center]Vamos parar de fabricar cristãos e deixar que cada um seja montado de uma maneira diferente. [/quote_center]Temos apenas que estar sempre à postos, de portas abertas para quem procura.

Ser leme, não motor de popa.
Ser um mapa, não um GPS.

É difícil abrir mão do controle? É. Nenhum pai gosta de ver o filho por a mão no ferro quente, mas tem uns que só aprendem assim.

Vamos parar de nos entupir de programações eclesiásticas, vamos parar essa linha de produção.

Lembrem-se que somos vasos nas MÃOS de um OLEIRO. A coisa é artesanal gente.