Uma reflexão sobre nosso papel como pedaços partidos nesta vida.

O que somos nós?

O que somos nós? Não somos um nome, já que a gente pode até escolher outro se quiser. Não somos também um objeto, já que temos vida, vontade, vontade de viver. Provavelmente não somos sequer o nosso próprio corpo, já que a grande maioria de nossas células não é a mesma que existia 7 anos atrás. 30 milhões delas nascem a cada minuto. São 400 trilhões por dia.

Não somos uma mera inteligência, interpretando situações e cenários; não há como. A gente tem alegria ao sorrir, ainda que sozinhos. Felicidade, quando a alegria se acumula em sorrisos que duram dias. Um tanto de amor, quando a vontade de estar junto não cabe em explicações.

Mesmo com tudo isso misturado, ainda somos mais. A gente também é tristeza, angústia, dor, num contrapeso de seres, nos balanceando com os outros. Somos uma metade, fração do inteiro, sempre buscando e também querendo ser encontrados. Pelo outro, pela sorte, por Deus. Somos pedaços tentando ser encontrados.

E pedaço, por definição, é parte. Assim, falta alguma coisa. Somos mesquinhos, cruéis, prepotentes. Um coletivo de sentimentos sublimes cruamente mutilados, por sermos apenas uma parte. Por conta disso, também somos solidão, desamparo e culpa – coisas que ficam e nos deformam ainda mais.

Então somos pedaço sem forma. A busca pelo todo é latente, incapaz de quebrar a camada imperfeita que nos separa, que nos envolve.

Somos uma infinidade de universos, vagando no que para nós não passa de um vazio sem sentido. Muitas vezes, a gente esquece que entre tudo também existe o que se chama esperança. Ela nos faz ver que as imperfeições podem ser expandidas em um mar de simetria, organização, beleza, de vida. Tudo num piscar de olhos, como quem encontra o todo.

Se o que somos é pedaço, então, o que seremos? Transmissores, mensageiros dessa busca pelo todo. Constantemente mudando, respirando esperança, um catavento olhando para o céu.