O que Deus tem a ver com os atentados em Paris?

Paris não dormiu. Atacada por terroristas em três pontos diferentes, com bombas e armas automáticas, a cidade não dormiu. Pelo menos 120 pessoas morreram e inúmeros ficaram feridos com atentados na cidade-luz.

Duas hashtags se espalharam pelo Twitter em apoio à situação. A primeira delas, #PorteOuverte, vem junto a um endereço, pois quer dizer “porta aberta” para quem precisa de refúgio e estava nas ruas durante os ataques.

twitterportaaberta

A segunda, #PrayForParis, conclama a humanidade que tem algum tipo de fé a orar por todos que estão sofrendo diretamente com a situação. Longe de ser um ato que possa resolver o problema da forma pragmática que o mundo espera, postar a hashtag e fazer uma oração, representa um ato religioso pelo menos de compaixão aos envolvidos na tragédia. Significa levar a Deus esse desejo e, a seguir, levar a mão que ajuda e o abraço que consola aos que precisam.

Ao acordar nesta manhã de sábado, além de ter de lidar com a ignorância sem tamanho de indivíduos que reclamam que “se silencia por Paris, mas não pelas milhares de crianças que morrem na África diariamente”, preciso me deparar com essa imagem:

dontprayforparis

A imagem diz:

“Bush atacou o Iraque em nome de Deus. Daesh luta em nome de Alá. Nós já fizemos mal o suficiente em seu nome, então vamos deixar Deus fora disso. Obrigado” (*Daesh é o nome que a França utiliza para o grupo Isis)

Colocando um X exatamente na palavra “pray” e assinando com a data dos atentados a Paris, a imagem humanista acredita que o gesto religioso de nada serve, diante do mal causado pela religião. É o que também afirma este tweet:

paris-humanismo

O texto diz “Por favor, não ore por Paris. Pense por Paris. Ame por Paris. Faça sexo por Paris. Nós já tivemos religião o suficiente por uma noite”.

Se ainda não ficou clara a ignorância preconceituosa dessas sentenças, vamos deixar mais claro.

Particularmente, não sei o que os livros sagrados do islamismo ou hinduísmo ou de qualquer outra religião dizem exatamente sobre usar o nome de Deus em seu benefício. Mas eu certamente sei o que significa para a tradição judáico-cristã o fato de usarmos Seu nome em vão ou proclamarmos nossos feitos como que assinados por Ele se não há registro de que Cristo teria feito aquilo.

Assim, para a lógica humanista-ateísta, orar por Paris significa endossar uma religião que mata. Assim, a “fé” do terrorista é colocada na mesma prateleira dos que certamente creem em um Deus que não deseja aquela violência, muito menos a endossa. Não orar por Paris, para a lógica humanista-ateísta é deixar “deus” de lado, já que ele (“criado pela humanidade”) é o corresponsável pela morte das dezenas de pessoas na noite de sexta.

Mas eu não vou ser como eles. Eu não vou colocar todos os meus amigos, conhecidos ou pessoas que eu admiro que são humanistas-ateístas, na mesma vala. Mesmo que discorde deles, eu acredito, ou quero acreditar, que nem todos pensam assim. Que muitos deles sabem distinguir entre o que significa sequestrar o nome de Deus para usa-lo a seu bem-querer ou usa-lo honestamente (e humanamente) como motivo para lançar minha fé por Paris.

A esta ignorância compartilhada e retuitada por franceses (ou grandes pensadores brasileiros), deixo não apenas minhas orações, como o agradecimento de continuar podendo orar por Paris, pelas famílias que sofrem a dor da perda, pelo mundo que vê o mal se espalhar e, sim, pelo humanismo-ateísta que pode ser tão cego quanto um fundamentalista religioso.

#PrayForParis
#PrayForTheWorld