3 coisas que aprendi com minha primeira tatuagem

Sempre fui um aficionado por desenho desde criança, todo tipo de linha e pintura me fascina: no papel, no quadro, na parede…na pele. Existem traços e artes que, inclusive, possuem um charme próprio na pele, não ficam tão bonitas no papel, foram feitas para o corpo.

Por ainda ser tabu para alguns cristãos e esse post não se prestar a uma análise bíblico-teológica sobre o tema, recomendo desde já a explicação sucinta do Ariovaldo Carlos Jr: clique aqui.

A vontade de fazer uma tatuagem veio cedo, já no final da adolescência, porém meus pais nunca foram muito adeptos da ideia, o que nos leva desde já ao primeiro ponto:

1) Paciência e obediência são dádivas divinas;

Sempre externei a vontade de me tatuar, assim como meus pais sempre externaram que não curtiam muito a ideia.

Jamais houve uma proibição, algo expresso, mas sabendo que aquilo os incomodava optei por guardar o mandamento contido em Êxodo 20:12 – “Honra teu pai e tua mãe, para que teus dias se prolonguem sobre a terra que te dá o Senhor, teu Deus.”

Alguns falam em manter a autenticidade, mas sempre entendi que uma tatuagem é, no fim das contas, um adereço. E um simples adorno não poderia definir quem eu era e, ainda que definisse, eu optaria novamente por negar essa minha parte por respeito e amor.

Deus, em sua infinita misericórdia, sabia bem do que estava me poupando, pois o jovem Daniel fã de Final Fantasy VIII tinha um certo apreço por coisas bizarras como essa:

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Zell – Final Fantasy VIII

Anos se passaram e a ideia não mais percorria minha cabeça, já havia me disposto a fazê-la apenas quando estivesse sob o meu próprio teto. Sem rancor ou mágoa, apenas a convicção que estava obedecendo ao mandamento Divino, sempre grato por isso.
Ocorre que por intempéries da vida, que parece me trollar em cada esquina, a independência financeira teima em não aparecer e a minha tatuagem – embora certa – ficava cada vez mais distante.

Eis que em um dia completamente aleatório sou chamado até a cozinha para conversar “algo sério” com meus pais. Morte, doença, crise financeira e todas as piores desgraças passaram por minha cabeça (pois é, temos dificuldade em esperar pelo bom, mas isso é papo pra outro post), mas apenas sou comunicado de que eles estavam de acordo com que eu fizesse uma tatuagem.

Assim mesmo, sem nenhum clímax ou evento impactante. Talvez Deus apenas tenha achado que era o tempo certo.

E debaixo da obediência eu estava livre para fazer, sem amarras, a famosa pergunta: eu quero realmente fazer isso?

– Sim!

2) Ter um objetivo desfoca tudo o que é secundário;

Estar convicto de uma decisão é uma benção, especialmente quando é algo que ainda gera opiniões divergentes.

“- Tu tens certeza?”
“- Rapaz, é melhor não!”
“- Show de bola!”
“- Eu acho massa, mas acho que enjoaria.”
“- Se prepara, vai doer muito!”
etc.

Por ter tomado essa decisão de forma pensada e racional, eu estava plenamente convicto do que queria. Avaliei consequências, planejei onde a queria, o que queria; todos os percalços estavam de lado e a estrada era direta e apontava apenas para meu objetivo.

Desse modo fui sem medo para minha sessão (a qual eu aguardei ansiosamente, por 2 meses!) e até mesmo a dor da agulha passou despercebida, tudo em virtude do alvo determinado. Foram 5 horas e 30 minutos ininterruptos, até mesmo a bexiga esqueceu-se do tempo.

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Recém saída do forno

3) Conhece-te a ti mesmo;

O aforismo Grego traz uma sabedoria peculiar que demoramos a nos dar conta.

Quando a ideia da tatuagem se solidificou e tornou-se algo palpável, veio a clássica pergunta: certo, mas o que exatamente vou fazer?

Buscava algo com real significado para minha primeira tatuagem, queria algo que me definisse como pessoa. E se definir, ao contrário do que diziam as descrições do finado Orkut, não nos limita, mas sim nos ajuda a entender quem somos, o que buscamos.

Já fui mais piadista, menos distraído, já estive mais triste, mais alegre, não eram sentimentos que iriam me dizer quem sou. Percebi que gostava de desenhar, tinha me formado em direito, exerci a advocacia, mas parei e hoje estudo para concurso, então não eram meus conhecimentos que iriam me sintetizar como pessoa.

O que eu era, afinal? De repente, a busca por uma tatuagem que me representasse acabou se tornando uma jornada de auto-conhecimento.

Então olhei para cima.

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Uma certeza eterna do que eu era: um filho do céu, do Criador, do Eterno; um cristão.

E, como cristão, eu era alguém que passou uns bons anos negando o mundo em que vivia e enfurnado em uma igreja – o que me fez perder amigos e experiências construtivas.

Para logo em seguida me enfurnar no mundo e passar uns anos negando a igreja – o que me fez perder experiências construtivas e muitos amigos.

Lembrei de como eu precisava equilibrar as coisas: nem me tornar um cristão gnóstico ao renegar a matéria, tampouco um humanista desigrejado que renega o corpo eclesiástico.

Então eu sou, enquanto matéria, uma dualidade ambulante, sempre lutando pelo equilíbrio.

Eis que surge meu lobo, representando a noite e, em breve, virá um leão, representando o dia.


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10 dias depois =)