Meu condomínio

Meu condomínio é peculiar. Moro no lugar há 6 meses e, até então, meu único contato para resolver burocracias era com o síndico. Ele não é morador. É terceirizao e também tem uma empresa de faz-tudo que, claro, faz tudo para o prédio. Achei conveniente — ainda que pareça estranho.

Há algumas semanas o síndico começou a “sumir”, atender poucos telefonemas e tempos depois marcou a primeira reunião que vi nesse período por lá. Não é um condomínio muito grande, é um imóvel novo e pouca gente se conhece. Então deve ter sido o primeiro contato de muitos. Claro que não fui a essa reunião. Claro que esqueci, claro que não queria ir.

Os relatos posteriores era de que tinha sido trabalhosa, o que não é novidade. Alguém questionava o fato do síndico fazer um monte de coisa fora do padrão.

E aí uma vizinha do bloco B (onde moro) descobriu que havia um grupo no WhatsApp e que ninguém do nosso bloco estava nele. Pediu que nos adicionasse, claro.

E eu topei, claro.

Pra que?

Descobri que no meu condomínio existe um mundo paralelo. O mundo das pessoas que na duração das suas vidas vão discutir o condomínio no Whatsapp.

E como eles discutem. O dia inteiro.

Eles discutem sobre modos de discutir. E brigam mais. Discutem pedindo desculpas por discutir.

xuxawhatsappSe você não gosta de textão de Facebook, você precisa conhecer o textão de Whatsapp dos meus vizinhos. Eles usam o aplicativo para fazer a ata das reuniões, para listar o que está faltando ser feito e, claro, para falar mal do síndico. Ou seja, até existe uma boa intenção. Só que bagunçaram tudo.

E não é só do síndico que falam mal, claro. Falam mal dos pedreiros que ficam o dia inteiro no Whatsapp, dos vizinhos que deixam os filhos brincarem de bola no corredor.

Quem sabe também falem mal de mim, que deixei o grupo no meio de uma dessas discussões sem fim, sem avisar o porquê . Estou exagerando? Devo estar: não sou tão querido assim.

O ápice de todo esse modus operandi foi quando eles começaram a marcar reuniões frequentes fora da rotina.

Cheguei às 21h30 em casa e estavam se reunindo na minha vaga de garagem. Repare no horário. Eram 23h30 quando eu me toquei que a reunião ainda acontecia porque ouvi o choro de um menino de menos de 2 anos que sorriu pra gente quando subíamos ignorando a reunião. Sim, o menino estava participando da reunião.

O encontro terminou depois da meia-noite e tinha por volta de 10 pessoas discutindo avidamente o futuro do prédio. Contei umas 3 horas, no mínimo. Todos de pé, sem água, sem lanchinho. Fiquei sabendo no dia seguinte que a reunião da semana seguinte precisava ser agendada, para discutir o que faltou.

Pensei que o futuro desse prédio. Que é super simples, com 2 prédios de 4 pisos que mal têm área comum, não têm área de lazer — é um ambiente prático, para quem está começando a vida agora e não está procurando muita coisa.

Pensei sobre o futuro.

E no futuro do prédio eu imaginei uma sala de reunião climatizada. Com cadeiras ergométricas, uma grande mesa, um datashow e um quadro branco para ideias. Imaginei um gerente de projetos engajado na proatividade da equipe, garantindo produtividade diária nas cobranças. Imaginei as crises entre o gerente de planejamento e o administrativo, entre a equipe de operações técnicas e o almoxarifado.

Tranquei a porta, apaguei a luz e parei de pensar.


 

Foto de capa: Paulisson Miura