McFly chega ao Brasil de 2015 e pensa que é 2035

Mais cedo o catavento* postou um 5 coisas que 2015 surpreendeu De Volta Para O Futuro II. Preferimos elencar mudanças positivas, ao invés da infindáveis listas em que todo mundo choramingava (no bom sentido, claro) sobre o que não alcançamos.

Mas o dia icônico também serviu para que algumas críticas sociais fossem feitas, especialmente na piada que seguia mais ou menos a seguinte fórmula: “Marty McFly chega a 2015 mas encontra tudo mais atrasado do que deixou.”

A ideia é chamar atenção para tópicos como machismo, racismo, homofobia, xenofobia, e tantos outros que muitos sonhavam que já estariam superados. Porquanto a ideia seja válida e é uma boa sacada, ela ofusca uma excelente oportunidade: celebrarmos as vitórias e conquistas.

Marty McFly deixa Hill Valey no ano de 1985 e retorna em 2015. Um viajante brasileiro estaria deixando o último ano da Ditadura Militar e chegaria para encontrar uma representante do Partido dos Trabalhadores no poder.

Nesse lapso de 30 anos, o McFly brasileiro não saberia que em 1988 fora promulgada a mais recente – e atual – Constituição Federal brasileira, apelidada de “Constituição Cidadã” em virtude dos inúmeros avanços sociais e consolidação de direitos há muito disputados.

13º salário, jornada de 44 horas semanais, licença-maternidade, direito à greve, foram algumas das conquistas trabalhistas consolidadas pela Carta Magna.

A saúde deixou de ser considerada um serviço e passou a ser um direito universal da população, com isso veio a criação do SUS – Sistema Único de Saúde.

martymcfly

“Celebrar conquistas e reconhecer os avanços não significa diminuir as enormes questões que ainda se põem diante de nós em cada um dos temas abordados”

 

Os Estados foram obrigados a fornecer educação fundamental e serem responsabilizados por sua implementação; e isso só para mencionar as conquistas constitucionais.

A questão racial passou a ser rediscutida e retirada das sombras, com isso o advento das cotas que, muito embora gere discussão quanto aos critérios aplicados – não pode ter seu benefício negado.

A luta da mulher por mais espaço foi marcada por avanços e conquistas na área profissional e na sua emancipação social e no processo de “desobjetificação“.

Homossexuais tiveram suas uniões reconhecidas e galgam degraus cada vez maiores na igualdade e respeito sociais.

Até mesmo o universo cristão passou por modificações, passando por um processo cada vez maior de aproximação cultural e debandada de seus guetos culturais.

A lista poderia continuar ao ponto de se tornar extensa e enfadonha, mas paradoxalmente não menos inspiradora.

Celebrar conquistas e reconhecer os avanços não significa diminuir as enormes questões que ainda se põem diante de nós em cada um dos temas abordados.

A saúde nacional é precária, assim também o é a educação; o preconceito de raça, sexo, orientação sexual e religião ainda se multiplicam como células cancerígenas; o meio cristão ainda é frequemente abalado por escândalos de corrupção e intolerância.

Mas alguns dias merecem ser gastos para se olhar pra trás e ver os frutos da boa semeadura. Eles recobram nossas forças para que voltemos a pegar no arado.

É como se relembrássemos o porquê de cada luta. Como voltar no tempo.