Carlos Careqa faz canção em resposta a Marcelo Jeneci, abrindo o debate sobre a condição humana.

A gente é feito pra acabar ou pra continuar?

[dropcap1]F[/dropcap1]oi em 2011 que Marcelo Jeneci lançou um dos melhores discos brasileiros dos últimos tempos. “Feito Pra Acabar”, canção que deu título ao álbum, foi escrita com José Miguel Wisnik e Paulo Neves. A faixa encerra o disco que é pincelado de referências de fé, considerando que Jeneci é filho de mãe evangélica e cresceu dentro de igreja. Nesta matéria do Último Segundo ele dá detalhes sobre como era viver numa casa onde o pai não queria uma fé e a mãe sim.

Marcos Almeida, vocalista do Palavrantiga e autor do blog Nossa Brasilidade, incluiu “Feito Pra Acabar” numa lista das “As dez mais belas e santas canções do nosso hinário popular”. Nela, já contou em oficina no Recife, encontra a visão cristã sobre a fugacidade da vida terrena. A lembrança de Jeneci nos faria pensar sobre a morte e, fora da canção, refletir sobre a esperança na eternidade.

Carlos Careqa é um cantor, compositor e ator de Santa Catarina, radicado em São Paulo. A longa discografia independente de Careqa chega recentemente ao ótimo “Made In China” que tem uma resposta declarada a Feito pra Acabar, de Jeneci. “Feito Pra Continuar” é a sétima faixa do álbum e sobre ela, disse em entrevista ao blog A Canção e Seus Sentidos:

[quote_box author=”Carlos Careqa” profession=””]Quando esta canção começou a tocar aqui em SP, ficava intrigado com esta máxima: “A gente é feito pra acabar” como assim? E aquilo batendo na minha cabeça por muito tempo, ainda mais vindo do Mestre Wisnik?! […] Eu realmente neste caso colei em cima da canção do Jeneci e Wisnik, queria dar uma resposta sobre este assunto. Nada se acaba nesta vida, tudo se transforma e disso eu tenho certeza. Sou fruto desta transformação. O próprio Winik é fruto de transformações, Chopin e Jobim! Nazareth e Machado de Assis! E eu então, tantas vidas na minha vida, as células iniciais que se transformaram e que estão se transformando o tempo todo. O motivo melódico aponta pra isto. Uma pequena mudança, um pequeno intervalo e tudo já fica diferente. Acho que consegui responder, apesar de que quase ninguém notou esta resposta ainda, mas com o tempo ela virá![/quote_box]

O *catavento traz o embate filosófico-cancioneiro e convida para a mesa de diálogo os seus leitores. Afinal: a gente é feito pra acabar ou pra continuar? Ouça abaixo as duas canções e participe da conversa.

Feito Pra Acabar

Quem me diz
Da estrada que não cabe onde termina
Da luz que cega quando te ilumina
Da pergunta que emudece o coração

Quantas são
As dores e alegrias de uma vida
Jogadas na explosão de tantas vidas
Vezes tudo que não cabe no querer

Vai saber
Se olhando bem no rosto do impossível
O véu, o vento o alvo invisível
Se desvenda o que nos une ainda assim

A gente é feito pra acabar
Ah Aah

A gente é feito pra dizer
Que sim
A gente é feito pra caber
No mar
E isso nunca vai ter fim

Feito Pra Continuar

Sei que é difícil te contrariar
Mas é complicado te entender
Sabe aquela areia que se pisou?
Não está mais lá se transformou

Se o meu caminho já se esvaziou
Ouço a tua voz que a terra afofou
Chuva desafina que pra mim olhou
Bem além do além mar um riacho virou

Quem nos unirá há de superar
Da mesma massa o pão fermentar
O rio não corre pra nenhum lugar
Assim não será fim.

A gente é feito pra se transformar
A gente é feito pra continuar
Nunca se acaba, nem quando termina
O ouro que cobre volta pra mina
Pensamento vem, conclusão e vai
É tudo que me dói e a vida oficina